A janela de madeira "branca"...
A chuva cai devagar, como quem sabe que traz consigo mais do que água, traz memórias. E eu, aqui, entre o agora e o antes, deixo-me levar pelo cheiro da terra molhada, aquele perfume antigo que não se compra, só se herda.
Lembro-me da janela. Branca, mas não mais branca, gastada pelo tempo, como tudo que é verdadeiro. Sua madeira áspera sob meus dedos curiosos, enquanto eu esperava a chuva passar ou, quem sabe, esperava que não passasse nunca. Era ali, naquele quadro de madeira e vidro, que o mundo lá fora se tornava poesia: as gotas escorrendo, o ar úmido, o ritmo calmo do temporal. E eu, pequena e quieta, molhando as mãos, como se tocasse o tempo.
Minha avó já se foi. Mas a janela continua aqui, em algum lugar que não é lugar, guardada no cheiro da chuva. E eu, agora maior, percebo que saudade não é tristeza, é apenas amor que não encontra onde pousar. É o coração dizendo: "Isso foi bom. Isso ficou."
A chuva ainda cai. E eu, como outrora, fecho os olhos e molho as mãos. Só que agora não é na madeira branca, é no peito. E a avó, a casa, a infância, tudo está aqui, na quietude deste instante, onde o tempo não passa, só dança.
Comentários
Postar um comentário